sexta-feira, 17 de abril de 2015

"Os filhos podem ser príncipes mas os pais é que são os reis"

As crianças e pais podem ter uma relação feliz e equilibrada. Dá trabalho mas os resultados podem ser imediatos.


A questão pode parecer demasiado filosófica mas é caso para a fazer: As crianças podem ser felizes? Magda Gomes Dias, formadora nas áreas comportamentais e comunicacionais há mais de 12 anos, diz que sim e que tudo depende de um bom trabalho de parentalidade positiva por parte dos pais.
O processo pode ser árduo mas não é impossível. É preciso seguir cinco princípios básicos, entre eles a liderança empática. “Isso significa que eles até podem ser os príncipes e as princesas lá de casa, mas os reis e as rainhas somos nós [os pais]”.
Em Crianças Felizes, o guia para aperfeiçoar a autoridade dos pais e a auto-estima dos filhos (A Esfera dos Livros), Magda Dias descreve as situações que qualquer pai passa com os filhos. As birras, as exigências, as respostas obstinadas, as mentiras a que se tem que reagir na pressa da manhã e entre o cansaço do fim o dia. É preciso alguma ginástica mental para lidar com estas situações, mas nada que não se faça com um bom treino. No final, a palavra cooperar liga tudo: valores, amor, obediência, crescimento saudável.
A autora sublinha que nem sempre os “sermões e ralhetes” recebidos em criança nos ajudaram a ser uma pessoa melhor em adulto. “É, por isso, determinante que os pais das crianças vivam honestamente os seus valores, que sejam fiéis àquilo em que acreditam – não poderíamos ser melhores modelos para os nossos filhos. É em casa que os miúdos aprendem a ser, a ajudar e cooperar e também a tratarem de si. É em casa que eles aprendem a estar em comunidade e é neste espaço que deverão sentir-se seguros e não ameaçados”, escreve Magda Dias no seu livro.
A também autora do blogue Mum’s the boss e do site ParentalidadePositiva.com, e mãe de duas crianças, sublinha ao Life&Style que a medição de forças entre pais e filhos não faz sentido. Há uma autoridade parental que tem que ser mostrada e explicada às crianças. “A nossa missão é orientá-los no seu crescimento, certos que eles têm o direito de estarem zangados connosco, frustrados ou chateados com alguma decisão que possamos ter tomado. Mas não é por estarem assim que vamos mudar de ideias. Somos empáticos porque percebemos como eles se sentem mas não significa isso que temos de ceder ou fazer-lhes a vontade quando, o melhor para eles, é mantermos a decisão”, argumenta.
Magda Dias não acredita em relações perfeitas entre pais e filhos. Para a especialista em coaching e aconselhamento parental, perfeição é a “possibilidade de estarmos em melhoria contínua” e para isso há cinco princípios que ajudam ao processo de construção de uma relação equilibrada e saudável.
O respeito mútuo é um deles. “Não é porque eu sou o pai/mãe dos meus filhos que eles me devem respeito. O respeito ganha-se e ensina-se, não é um dado adquirido”, aponta. Existindo esse respeito, então a relação “não precisa de se apoiar nas ameaças e palmadas nem no laisser faire, laisser passer e procura outras formas de estratégias”. Há ainda o vínculo, que se refere à relação que pais e filhos têm entre si. Segue-se a liderança empática, a disciplina sem castigo e a parentalidade pró-activa, quando os pais sabem que fase do crescimento psicológico e emocional estão a chegar e assim conseguem manter-se tranquilos e preparem-se para ajudar os filhos.
Quanto aos pais que têm o sentimento de culpa de que poderiam fazer mais e melhor, Magda Dias é peremptória: “A maior parte dos pais faz o melhor que pode. Andamos muito distraídos e muito cansados, e no limite. E, por isso mesmo, gerimos menos bem o stress e, então, os miúdos acabam por ‘apanhar por tabela’”.
“Era importante que os pais pensassem a médio e longo prazo, dando corpo aos valores que são importantes na sua família e concretizarem isso. Como? Se quero que o meu filho seja uma pessoa curiosa é importante que possa sair com ele e levá-lo a conhecer a história da minha cidade, por exemplo. Se quero que o meu filho tenha um estilo de vida saudável, que goste e respeite a natureza, posso levá-lo a passear de bicicleta para uma floresta, trazer folhas e começar um herbário, por exemplo. Basicamente esquecemo-nos de pensar quais são os nossos valores e depois fazer ‘viver’ esses mesmos valores”, defende a autora ao Life&Style.
Em Crianças Felizes, Magda Dias desenvolve ao longo dos capítulos as questões da autoridade e obediência, duas das principais preocupações que os pais levam para os workshops organizados pela autora. Os progenitores preocupam-se ainda em ajudar os filhos a terem uma auto-estima equilibrada.
Não há processos instantâneos para resolver estas questões, ou como diz Magda Dias “comportamentos não mudam do dia para a noite”. Na verdade, o meu trabalho promove a melhoria das relações e a primeira mudança dos comportamentos é nossa. E o que é curioso é que a resistência maior, quando ela existe, pode ser dos pais, justamente nessa mudança. Acreditamos que eles é que têm de ceder quando não tem nada a ver com cedência – e sim, genuinamente, querermos ter dias mais descomplicados e felizes. E isso é possível, acredita. O livro apresenta inúmeros exemplos disso mesmo. Ninguém nasce ensinado. E quando se conhece estas dicas e as aplicamos, então a cooperação e a mudança de comportamento dos miúdos é quase automática”.
Recorrer à palmada e ao castigo podem ter um efeito imediato mas não é duradouro, considera Magda Dias. O que é melhor para os dois lados “dá mais trabalho” mas, “no médio e no longo prazo, as crianças tornam-se mais independentes, confiantes”. “Os pais têm de se perguntar se é por aí que desejam ir e se é assim que desejam educar e se é esse o tipo de relação que desejam ter com os filhos. Há outras formas de se educar que promovem a responsabilidade da criança, a tomada de boas decisões e que assentam no vínculo que temos com os nossos filhos”.
A autora defende que não há casos perdidos quando se fala em educar. O melhor momento pode ser qualquer altura. O importante é “renovar a forma como estamos na relação parental e começar, finalmente, a disfrutar dela a 100%”. “E sim, relações equilibradas, com espaço para negociação são relações saudáveis e penso que é isso que qualquer pai e mãe desejam”.

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