sexta-feira, 25 de maio de 2012

Quase tudo que aprendemos de bom e de ruim tem a ver com os pais

Luiz Alberto Py - Donald Winicott, um inglês que foi pediatra e depois psicanalista, trabalhava muito com crianças e dizia: “Não existe boa mãe”. A mãe que quer ser boa mãe já perdeu a batalha. Ela tem que ser mãe, ela tem que cuidar do filho. Se ela está preocupada com o adjetivo “boa”, está preocupada com sua vaidade, sua tarefa fica prejudicada. Tenho uma experiência de paternidade tardia. Agora estou com dois filhos pequenos. Tenho filhos de quarenta anos e de dois anos. Outro dia peguei meu filho de dois anos no colo, abaixei a cabeça dele no meu ombro e eu vi quando ele ia dormir. Vi aquela cabecinha repousada, aquela confiança que aquela criancinha depositava em mim e isso me fez tanto bem. Fiquei ali abraçado com ele, pleno e feliz. Pensei que num outro tempo da minha vida, quando tive meus primeiros filhos, eu não era capaz disso. Eu não tinha aquela tranquilidade, aquela serenidade, eu estava querendo crescer profissionalemente e pensava: “Segurar uma criança no colo qualquer pessoa pode fazer”. Vou largar a criança, pois tenho um artigo para escrever, um livro que preciso ler, uma aula para preparar. Havia uma pressa, uma tensão que não me permitia, ou melhor, eu não me permitia saborear a paternidade. Os jovens muitas vezes têm pressa porque não têm tempo. Os velhos têm tempo. O tempo que temos é o tempo que já vivemos. Agora capitalizo o tempo que já vivi e isso me dá muita serenidade. Eu não tenho a pretensão de ir mais longe do que já fui e agora posso pegar um filho no colo e ficar ali parado pensando em nada e sentindo o prazer daquela convivência de corpo com corpo.


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